Os contras de morar em Salvador, Brasil — e onde comer bem sem gastar muito

Salvador, Brasil. Foto: Marianna Smiley, Unsplash

Sem dúvida, Salvador tem muito a oferecer: praias de areias escuras, uma vibrante herança ligada à capoeira, carnavais de fama internacional, shows de samba e clima tropical o ano inteiro. Para quem busca aventura, não faltam opções como trilhas, tirolesa, florestas tropicais, surfe e até escalada. Parece um ótimo destino para se viver — e, em muitos sentidos, é. No entanto, a infraestrutura da cidade ainda está em desenvolvimento.

As estradas que ligam Salvador a outras regiões estão, em geral, em boas condições, mas os imóveis de qualidade para alugar são limitados. A segurança nas atividades de adrenalina nem sempre segue normas rigorosas, o acesso à água potável pode ser inconsistente, e a conexão de internet — mesmo em coworkings modernos — pode apresentar instabilidade. Quedas de energia não são raras, e nem sempre há suporte técnico imediato disponível. Apesar de haver avanços, esses e outros problemas, como transporte público ineficiente e trânsito pesado, podem gerar frustração no cotidiano.

Um grupo de policiais. Foto: Zhanjiang Chen, Unsplash

Salvador passou por mudanças significativas nos últimos anos, deixando para trás uma reputação marcada por altos índices de violência e se transformando em um destino cada vez mais atraente para imigrantes, turistas e trabalhadores remotos. No entanto, esse processo ainda está em andamento — e a cidade continua com um número elevado de crimes, especialmente quando comparada a outras capitais brasileiras. Grande parte das ocorrências registradas pela polícia está relacionada a disputas entre facções, incluindo confrontos armados e homicídios, que raramente envolvem pessoas de fora.

Embora a Bahia seja o estado com mais mortes violentas do Brasil, os principais riscos para quem vive ou visita Salvador são furtos, extorsão, invasões domiciliares e roubos de carros. Adotar medidas de precaução é essencial. Evite usar joias chamativas, exibir objetos de valor e circular por áreas consideradas de risco, como favelas ou zonas dominadas por facções. Com base em relatos de nômades digitais, é importante ter atenção ao sacar dinheiro em caixas eletrônicos e sempre optar por meios de transporte confiáveis.

Uma pilha de documentos. Foto: Alexander Grey, Unsplash

Em Salvador, Bahia, resolver tarefas simples por meio de órgãos públicos pode se transformar em uma verdadeira prova de paciência. Entre os principais problemas do sistema estão o excesso de papelada, a falta de transparência e, em alguns casos, a corrupção. Para quem vem de países ou cidades com estruturas administrativas mais ágeis e eficientes, adaptar-se à lógica dos trâmites locais pode ser desafiador.

Há ocasiões em que o andamento do processo depende de um “incentivo financeiro”, algo que pode causar desconforto e frustração em muitos. Recorrer a agências especializadas costuma ser uma boa alternativa para lidar com a burocracia e garantir que a documentação seja resolvida corretamente.

Outro obstáculo são os serviços bancários desatualizados. Embora haja potencial para pagamentos móveis, fatores como instabilidade na conexão e baixos índices de inclusão digital ainda limitam sua adoção em algumas áreas. Em muitos contextos, o dinheiro em espécie ainda impera.

Uma pesquisa científica. Foto: Lucas Vasques, Unsplash

Embora o sistema de saúde em Salvador tenha passado por reformas importantes nos últimos anos, ainda há um longo caminho a percorrer para que alcance os padrões dos países desenvolvidos. Os hospitais públicos, apesar de gratuitos, costumam enfrentar problemas como má administração, burocracia excessiva e escassez de recursos.

Quem busca cuidados mais eficientes pode recorrer à rede particular. Instituições como a Clínica Florence e o Hospital Aliança (HA) são bem avaliadas e contam com infraestrutura moderna e diversos especialistas. Se você está se mudando para Salvador de outro país, não deixe de contratar um plano de saúde antes ou logo após a chegada, já que o custo do atendimento privado pode ser alto.

Para famílias com filhos, é importante saber que o sistema público de ensino também apresenta muitas limitações. A recomendação é investir, se possível, em escolas particulares, que têm melhor estrutura e recursos pedagógicos mais atualizados. A Gurilândia International School, por exemplo, oferece um programa bilíngue que observa práticas comprovadas tanto do programa brasileiro quanto de currículos internacionais.

Imagem de uma moeda. Foto: Orlando Sant'Anna, Unsplash

Uma das desvantagens persistentes de viver em Salvador são as condições econômicas instáveis e a inflação acelerada. Recentemente, surgiram relatos de que o Brasil estaria à beira de uma recessão em 2025, com uma desaceleração econômica significativa em comparação aos dois anos anteriores. Embora esses desafios não sejam novos, tornaram-se mais visíveis no pós-pandemia.

Para nômades digitais que ganham em dólares ou euros, o custo de vida ainda pode parecer acessível. No entanto, para a população local, a realidade é bem diferente. Com salários baixos e poucas oportunidades de emprego, muitas famílias enfrentam dificuldades para arcar com despesas básicas. Um exemplo: o gasto médio com alimentação gira em torno de R$ 940, o que representa cerca de 62% do salário mínimo do país, que é de R$ 1518. A subida no preço do que é essencial para viver — como moradia, energia, água, gás de cozinha e alimentos — pode não ser sentida imediatamente, mas, se a tendência persistir, todos serão impactados.

Além disso, a inflação costuma desencadear outros problemas, como aumento do desemprego, queda na renda, piora da infraestrutura pública e elevação dos índices de criminalidade. Antes de decidir morar em Salvador, vale a pena pesquisar a fundo o cenário econômico atual.

Comida tradicional no Brasil. Foto: Nathalia Segato, Unsplash

Apesar de todos os entraves, há razões para manter o otimismo — e uma delas é a culinária extraordinária de Salvador. Apelidada de Roma Negra, a cidade carrega uma rica fusão de influências africanas, indígenas e europeias, que moldam sua cultura e identidade gastronômica.

Quem visita Salvador costuma se encantar com os sabores únicos da cozinha baiana, que combina ingredientes locais com temperos marcantes, como azeite de dendê, leite de coco e especiarias tropicais. É um verdadeiro paraíso para os amantes da boa mesa, com bares descontraídos e restaurantes de rua modernos que servem clássicos como moqueca, acarajé e vatapá, tudo isso a preços acessíveis. A seguir, selecionamos alguns dos melhores lugares para você experimentar o que a metrópole tem de mais autêntico — sem estourar o orçamento.

Começamos nossa jornada gastronômica pelo Coco Bambu, no movimentado bairro da Pituba, em Salvador. Sofisticado e acolhedor, o restaurante é especializado em pratos com carnes e frutos do mar, preparados com ingredientes locais frescos. O interior da casa combina o charme do litoral com toques tropicais: paredes rústicas de tijolos aparentes, móveis de madeira polida, tecidos suaves, janelas do chão ao teto e muitos vasos com plantas. Há ainda um terraço para quem quiser aproveitar o clima quente da cidade.

A equipe da cozinha apresenta um menu extenso que lista de tudo, desde peixe fresco até crustáceos suculentos, acompanhados de guarnições bem elaboradas. Entre os destaques, você encontra o espetinho de camarão ao molho de cebola, os croquetes de bacalhau com molho tártaro, os anéis de lula fritos com pedaços de polvo em emulsão de tomate-cereja, o filé de pescada grelhado com molho à base de camarão e leite de coco, além da tilápia com crosta de pão de alho ao pesto de rúcula. Para a sobremesa, não deixe de provar a cocada com gelato de coco ou o pudim com geleia caseira de ameixa preta.

Conta média: R$ 160

Nos arredores da famosa Igreja do Bonfim, o Encantos da Maré é um endereço charmoso com foco em frutos do mar — uma verdadeira celebração da herança baiana. A casa é comandada pela chef Deliene Mota, que, um dia, após décadas trabalhando como coordenadora de eventos, decidiu mudar de vida e abrir um pequeno restaurante.

Unindo ingredientes típicos a influências da cozinha africana, o espaço caiu no gosto do público local e virou dica de ouro para turistas logo no primeiro ano. A decoração é simples e convidativa, com peças coloridas de arte e artesanato que remetem às raízes culturais da Bahia. No menu, vale experimentar o camarão ao alho com farofa, a carne de sol com vinagrete, a coxinha de siri com aioli de limão, o polvo com tomate grelhado e banana-da-terra ou o bacalhau empanado com vagem e molho de alcaparras. A carta de bebidas inclui sucos naturais, limonadas refrescantes, coquetéis tropicais, cervejas artesanais, tequilas e licores regionais.

Conta média: R$ 148 (sem bebidas)

Para uma autêntica experiência de comida caseira nordestina, vá ao Cadê Q'Chama?, no bairro do Santo Antônio, em Salvador. Trata-se de um restaurante familiar que oferece receitas típicas transmitidas de geração em geração, preparadas com afeto pela mãe do proprietário.

Para começar, peça petiscos simples, como torrada com pasta de camarão ao azeite, lula frita ao molho de alho ou costelinha de porco com cebola caramelizada. Nos principais, destaque para o vatapá, a moqueca de mexilhões, a sopa de mariscos com pão, a língua de boi grelhada com arroz de feijão e a rabada assada servida com arroz de açafrão. Para adoçar, o bolo de milho com glacê, o pudim de mingau com castanha de caju ou as rosquinhas de tapioca com leite de coco. O ambiente, assim como o cardápio, é acolhedor, rústico e cheio de personalidade.

Conta média: R$ 120

Fechamos nossa seleção com o Di Janela, um restaurante-bar pequeno e descolado que serve a culinária baiana com um toque criativo. A história do local é curiosa: os proprietários Nara Amaral e Luciano Chastinet começaram recebendo amigos e família em casa para jantares caprichados. O sucesso foi tanto que decidiram transformar a paixão em negócio.

Numa rua de paralelepípedos, o Di Janela logo se transformou em um dos pontos mais queridos da cidade. O destaque são as mesas na calçada, ideais para curtir o sol e a atmosfera do bairro. No cardápio, opções apetitosas como o camarão flambado na cachaça, as vieiras com vagem ao molho de limão, o ceviche de bacalhau com emulsão picante de yuzu, a lagosta com arroz de feijão preto e a famosa chapa de frutos do mar. Para encontrar o restaurante, procure o grande mural na fachada, assinado pelo artista plástico baiano Bel Borba.

Conta média: R$ 140

É verdade que Salvador enfrenta desafios — como falta de segurança e planejamento urbano insuficiente —, mas ainda é considerada uma das cidades mais encantadoras do Brasil. Clima quente o ano inteiro, patrimônios tombados pela UNESCO, câmbio favorável para estrangeiros e uma qualidade de vida acessível são grandes atrativos. Se você consegue lidar com as imperfeições, Salvador pode ser uma excelente escolha para viver ou passar uma temporada. Quer continuar explorando o melhor da gastronomia local? Confira também:

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